Olga Gago e Teresa Oliveira (Biblioteca Municipal Dr. Manuel Francisco do Estanco Louro - São
Brás de Alportel)
Após dois anos de isolamento social e cultural, a leitura continua a ser para muitos um meio de evasão e libertação. As Bibliotecas, essas, são o porto seguro para muitos leitores que anseiam pelas últimas novidades literárias, principalmente no campo da ficção, como o comprova o movimento de empréstimo domiciliário das bibliotecas do Algarve.
Embora estudos recentes digam que mais de metade da população portuguesa não tem hábitos de leitura e não leu qualquer livro em 2020, o mesmo estudo revela que quem leu, leu
por prazer e as bibliotecas, principalmente as municipais, são frequentadas, maioritariamente, por leitores que leem por prazer.
Ao analisarmos os dados dos livros mais pedidos nas várias bibliotecas, verificamos que a ficção ocupa o top dos empréstimos domiciliários. Dentro da ficção, o género romance
prevalece sobre os restantes géneros literários. No ano 2021, constatou-se que as escolhas de géneros, como o policial e o romance de amor, não foram tão dominantes como em anos
anteriores, pois aumentou a procura pelo romance de autor, isto é, um interesse pela escrita de determinado autor e não tanto pelo género literário. Se o romance é o género dominante
nas escolhas dos adultos, o público infantojuvenil continua a preferir o conto e o romance de aventuras.
Verifica-se ainda que as escolhas dos leitores acompanham as novidades do mercado editorial e também as tendências televisivas no que respeita a sagas literárias transportadas para séries televisivas e vice-versa.
Embora haja uma prevalência por autores estrangeiros como Carlos Ruiz Záfon, Isabel Allende, Sveva C. Modignani e Maria Dueñas, a ficção de autores portugueses, como José Rodrigues dos Santos, José Luís Peixoto e Domingos Amaral, está entre as preferências dos leitores das
Bibliotecas da BIBAL.
Saindo da esfera da ficção, os livros de autoajuda são os mais requisitados pelos leitores algarvios, seguidos pelos livros de História.
Atrevemo-nos a dizer que a crescente procura de livros de autoajuda e de espiritualidade reflete as angústias sobre o mundo em mudança rápida e as necessidades de adaptação social,
familiar e individuais, acentuadas pelos dois anos de pandemia por COVID-19. Os sucessivos períodos de isolamento impostos levaram a alterações das rotinas familiares e pessoais,
desencadeando dúvidas e incertezas sobre o Eu e a sociedade. Ser a farmácia da alma e contribuir para o bem-estar emocional e social dos nossos leitores e da nossa comunidade,
através da leitura e do conhecimento, deve ser motivo de regozijo das bibliotecas.
Como diz o poeta espanhol António Machado, “O caminho faz-se…caminhando” e é caminhando ao lado dos nossos leitores, acompanhando e correspondendo às suas
necessidades e interesses, que as bibliotecas constroem leitores e comunidades.
ABRIL 2022