Clara Andrade / Biblioteca Municipal de Lagoa (Algarve)
Quando um grupo de pessoas que gostam de ler, se encontram na Biblioteca para, em conjunto e com o apoio de um mediador, desfrutar das leituras feitas e partilhar ideias e opiniões, temos um Clube de Leitura. E a única condição para pertencer é gostar de livros, gostar de falar deles e estar inscrito. Funcionam na maioria das Bibliotecas do Algarve, com modelos de funcionamento muito semelhantes e quase sempre com chá e bolinhos…
As Bibliotecas de Portimão, Lagoa e S. Brás de Alportel foram as primeiras, a partir de 2002, a implementar Clubes de Leitura no Algarve. Logo depois, também Faro, Loulé, Vila Real de Santo António, Olhão, Albufeira e Silves criaram estes privilegiados espaços de “guerrilha”, como lhes chamava o escritor João Aguiar. Guerrilha da leitura e do debate contra as diferentes alienações e conformismos, porque o debate criativo entre diferentes perspetivas, opiniões e experiências é uma arma poderosa.
Nas sessões, geralmente quinzenais ou mensais, os membros reúnem-se, ao fim da tarde ou à noite, para comentar as páginas lidas em casa, centrando-se a discussão sobre a ação, o estilo literário, as personagens e, claro, sobre as experiências pessoais de cada um, criando também uma confiança e uma intimidade que faz do Clube de Leitura, um clube de amigos. Neste confronto amigável de leituras e experiências, reside a riqueza e o interesse destes encontros. Os grupos são compostos por pessoas de distintas idades, formações e profissões, o que torna a discussão variada e fértil, e, no caso de livros mais exigentes, esta pluralidade acaba por estimular a vontade de ir mais além e ultrapassar os próprios limites pessoais.
Os livros em leitura - normalmente um género literário específico dentro do universo da literatura universal - são cedidos pelas Bibliotecas, por empréstimo, aos seus membros. Este é um encargo com algum peso, mas justificável, já que vai ao encontro dos objetivos que norteiam as próprias Bibliotecas, centros onde se promove e produz cultura, espaços livres de promoção do livro e da leitura. Num mundo em que dominam a falta de tempo, o excesso de trabalho, e o uso exagerado de gadgets tecnológicos, um livro pode tornar-se uma porta para um oásis, para uma reflexão, para uma mudança positiva nas nossas vidas.
Depois, para além das sessões, os clubes complementam-se com outras atividades, como encontros com autores, tertúlias temáticas, visitas a exposições, idas ao teatro e cinema, festas… outras tantas experiências que enriquecem os encontros.
Comunidades de Leitores são um outro nome que se pode dar a estes encontros. Na Biblioteca de Lagoa, por exemplo, após uma pausa, reiniciámos em janeiro de 2018, com esta denominação e cara nova.
Clubes de Leitura ou Comunidades de Leitores são uma realidade nas Bibliotecas das nossas comunidades. Estão aí para que deles se faça uso. Abusemos deles e achar-nos-emos, tenho a certeza, cidadãos mais responsáveis, conscientes e também mais felizes.