Manuela Teixeira (Biblioteca Municipal Carlos Brito, Alcoutim)
No Algarve, para além da imagem turística associada ao sol e ao mar, existe um vasto território interior marcado pela baixa densidade populacional, muitas vezes afastado dos grandes centros urbanos e da oferta cultural concentrada no litoral, onde as bibliotecas municipais assumem um papel determinante como espaços de proximidade, inclusão, interculturalidade e desenvolvimento comunitário.
Mais do que livros: lugares de encontro
Nos concelhos do interior algarvio, como Alcoutim, Monchique ou Castro Marim, a biblioteca municipal é frequentemente o único equipamento cultural de acesso livre e gratuito, e o seu papel ultrapassa o empréstimo de livros para se afirmar como espaço de convívio intergeracional e intercultural, onde crianças e jovens encontram apoio ao estudo, adultos acedem a informação e novas tecnologias, encontram oportunidades de socialização que combatem a solidão e as comunidades estrangeiras encontram um espaço de cooperação e apoio, de contacto e informação, de igualdade e troca de experiências.
As atividades desenvolvidas vão, desde clubes de leitura a oficinas de escrita criativa, sessões de cinema, exposições, concertos de musica, encontros com autores e tertúlias, numa programação diversificada que define a biblioteca como um espaço de cultura dinâmico e inclusivo.
As bibliotecas desempenham também um papel essencial na valorização da identidade cultural e patrimonial destes territórios e contribuem para a recolha de memórias orais, preservação do património cultural imaterial e divulgação de tradições, ajudando assim a construir uma memória coletiva que fortalece o sentimento de pertença. Simultaneamente, funcionam como pontos de acesso a recursos digitais, promovendo a literacia mediática e reduzindo desigualdades no acesso ao conhecimento, contribuindo, não apenas para a divulgação da cultura, mas também para a coesão social e territorial.
Espaços de inclusão da comunidade estrangeira
O Algarve é uma das regiões do país com maior diversidade cultural, fruto da presença de comunidades estrangeiras residentes e de novos habitantes vindos de vários pontos do mundo. Nos territórios de baixa densidade, muitas bibliotecas municipais têm vindo a desenvolver projetos de integração, como clubes de leitura bilingues, cursos de português para estrangeiros, sessões de partilha e iniciativas de valorização intercultural.
Ao abrir as suas portas à população estrangeira, as bibliotecas tornam-se espaços de diálogo e de partilha, ajudando a criar pontes entre culturas e a promover a coesão social, numa dimensão inclusiva que reforça a sua relevância enquanto agentes de cidadania e aproximação comunitária e de encontro multicultural.
Bibliotecas como motores de coesão social
O caminho futuro deverá afirmar as bibliotecas municipais do Algarve interior como plataformas de cidadania e inovação cultural, como espaços onde se acede a livros e tecnologia, mas também a oportunidades de formação, diálogo e expressão criativa.
Num território onde o despovoamento e o envelhecimento populacional são realidades, estas bibliotecas podem funcionar como motores de coesão social, mantendo vivas as comunidades e reforçando o seu “capital cultural”.
Mais do que preservar estantes cheias de livros, importa assegurar que estes espaços continuam a ser pontos de energia cultural e social, capazes de aproximar pessoas, integrar culturas, reduzir desigualdades e dinamizar os territórios de baixa densidade do Algarve.
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SETEMBRO 2025