Vanda Prazeres (Biblioteca Municipal de Albufeira)
A Biblioteca Municipal Lídia Jorge, em Albufeira, pretende transcender a sua função tradicional de repositório de livros para se afirmar como um verdadeiro polo de fruição cultural e artística. Mais do que um espaço de estudo e de leitura, propõe tornar-se um local de descoberta, onde a arte ganha lugar, inspirando e conectando a comunidade.
Uma programação cultural dinâmica e um acervo diversificado são enriquecidos pela presença de obras de arte permanentes, destacando-se a última aquisição do município – Scratching the Surface project | Albufeira – uma icónica intervenção do artista Alexandre Farto (aka Vhils) na fachada da biblioteca; uma homenagem à escritora Lídia Jorge, madrinha da biblioteca, como forma de celebrar os vinte anos deste equipamento.
Quem passa na Rua Sophia de Mello Breyner, em Albufeira, não fica indiferente. Vhils transformou a fachada do edifício da biblioteca numa monumental tela urbana.
Removendo camada por camada de estuque e tijolo, intervindo pela primeira vez nas paredes de uma biblioteca, Vhils criou “uma representação visual e poética da jornada rumo à iluminação e ao conhecimento”, nas próprias palavras do artista, na inauguração da obra, em Julho do ano passado. O artista revelou, igualmente, que este é um tributo aos inúmeros autores portugueses, num local onde se procura celebrar a riqueza literária do país, sendo um projeto que simboliza a fusão entre a cultura e arte.
Por seu turno, a escritora Lídia Jorge, igualmente presente na inauguração da obra, manifestou sentir-se honrada e grata pela homenagem, pelo “prémio que a cidade lhe oferecera”. A premiada autora declarou que “esta obra, em grande escala, é uma chamada permanente da arte ao interior das bibliotecas, que são, com toda a certeza, um farol de cultura no nosso país.”
Quem responde a esta chamada e entra no edifício da biblioteca, sente perpetuado o deslumbre. À entrada do edifício está exposta a magnífica instalação “Algarvensis”, da artista têxtil Vanessa Barragão – reconhecida internacionalmente pelas tapeçarias em grande escala, intrinsecamente ligadas à natureza e à sustentabilidade, distinguem-se pelo recurso a materiais reciclados e desperdícios da indústria têxtil.
A peça exposta em permanência na biblioteca foi inspirada na algarvensis, uma orquídea selvagem presente na região. A peça complexa e vibrante, composta por fios e lãs reutilizadas, é uma celebração ao território onde a artista passou grande parte da sua infância, uma vez que é natural de Albufeira.
Encomendada pelo Município de Albufeira, de forma a elevar o aspirante Geoparque Algarvensis ao estatuto de Geoparque Mundial da UNESCO, numa candidatura conjunta dos municípios de Loulé, Silves e Albufeira - esta peça esteve originalmente exposta na ponte medieval de Paderne.
As obras de Vanessa Barragão não são apenas esteticamente belas, elas transmitem uma mensagem inequívoca sobre a urgência da conservação da natureza e da sua biodiversidade. A peça Algarvensis testemunha a habilidade da artista em transformar desperdício industrial em arte que educa e inspira, criando uma ligação deste espaço cultural à identidade natural da região.
Quem continuar a visita à biblioteca pode ainda apreciar, no tranquilo pátio interior, a instalação Andar a pé no fundo do mar, do escultor Jorge Cabrita Matias. Esta instalação escultória outdoor - igualmente encomendada pelo Município de Albufeira em contexto da sua candidatura a Geoparque - é inspirada nos fósseis encontrados no Planalto do Escarpão, situado entre Paderne e Ferreiras. Estes fósseis contam histórias com mais de 150 milhões de anos, sendo testemunhos da vida marinha tropical do Oceano Thetys, que em tempos remotos existiu neste local.
A presença destas instalações artísticas na biblioteca não só embelezam o espaço, como convidam à reflexão sobre a história e a alma do território, integrando a arte contemporânea no quotidiano da cidade – elevando a Biblioteca Municipal Lídia Jorge para além do seu papel tradicional. Demonstra um compromisso em ser um espaço dinâmico, de fruição cultural e artística, onde diferentes linguagens artísticas se encontram e dialogam com o público.
Estas obras em permanência, aliadas às exposições temporárias, aos workshops, palestras e outras iniciativas culturais para todas as idades promovidas pela biblioteca, transformam-na num verdadeiro epicentro de criatividade e conhecimento em Albufeira.
A Biblioteca Municipal Lídia Jorge não pretende ser apenas um espaço para ler ou estudar; pretende ser um local onde se possa ver, sentir, aprender e interagir com a arte, promovendo um enriquecimento cultural contínuo para todos os seus utilizadores. A sua fachada é agora um convite claro, para que tanto a comunidade local como quem visita Albufeira, explore a diversidade e a profundidade da arte contemporânea num ambiente acessível e acolhedor.
JULHO 2025