Olga Gago e Teresa Oliveira (Biblioteca Municipal de S. Brás do Alportel)
«O tempo da leitura não se reduz. A divagação e o sonho, a fantasia e as lembranças, fazem parte dela.» Michèle Petit
O Top de Leitura que a Rede de Bibliotecas do Algarve (BIBAL) mais uma vez vem divulgar abrange o período conturbado pelo impacto da pandemia de Covid19.
Durante os dois longos períodos de confinamento, a maioria das Bibliotecas Municipais do Algarve não interrompeu o serviço de empréstimo de documentos, que continuou a ser feito com pedidos via telefone, email ou através dos catálogos online e a sua entrega feita à porta ou ao domicílio, respeitando todas as regras de segurança e prevenção, quer no manuseamento dos documentos quer no relacionamento com os leitores.
Os livros de ficção e não-ficção mais solicitados por leitores adultos, jovens e crianças, que frequentaram as bibliotecas municipais dos vários concelhos do Algarve, incidiu sobre edições recentes e autores e coleções que granjearam muitos fãs em certos segmentos do público leitor. A leitura por prazer, entretenimento e, também, desanuviamento de uma realidade muitas vezes opressiva, foi dominante.
Na literatura infantojuvenil, os autores portugueses e os autores de obras clássicas foram pedidos principalmente para cumprir obrigações escolares, em particular as leituras recomendadas pelas Metas Curriculares da Língua Portuguesa para os vários ciclos de ensino. Os autores mais pedidos foram Sophia de Mello Breyner Andresen e José Saramago.
No âmbito da leitura de entretenimento, notou-se um grande interesse dos jovens pelas coleções “Diário de um Banana”, uma narrativa muito divertida, e pelo “Harry Potter” que transporta os leitores para um imaginário fantástico. Os mais pequenos revelam escolhas muito diversificadas entre os vários títulos de contos e fábulas.
Na ficção para adultos destacaram-se o romance de amor e o romance histórico, contrariando uma tendência internacional para a leitura de “thrillers”, em particular os romances de suspense psicológico, e o romance do imaginário fantástico. Continuou a verificar-se a procura de livros que inspiraram filmes e séries televisivas e a apreciação geral é que a leitura do livro foi mais emocionante. Comentário que os bibliotecários escutam sempre sorridentes!
Os adultos leram maioritariamente autores estrangeiros. Salientaram-se Ken Follett, com as sagas históricas, e Julia Quinn com os romances de época, um dos quais adaptado recentemente a série cinematográfica com muito êxito, o que multiplicou o número de pedidos dos livros desta autora.
O interesse por autores portugueses recai sobre os jovens talentos, como por exemplo, Valter Hugo Mãe e João Tordo.
A procura de livros de não ficção abrange várias temáticas. Contudo, entre os temas mais procurados estiveram os livros de História e os livros de Autoajuda. Estes totalizaram cerca de 50% dos pedidos, com conteúdos que analisam as emoções e o comportamento humano, quer do ponto de vista da psicologia comportamental quer da espiritualidade.
Os autores algarvios e as temáticas sobre o Algarve também fizeram parte dos interesses dos leitores, em particular os poetas João de Deus e Emiliano da Costa.
Na Biblioteca da Universidade do Algarve, os livros científicos e técnicos são os mais requisitados, principalmente das áreas temáticas das ciências aplicadas e tecnologias, seguido das ciências sociais, ciências exatas e naturais e só depois a literatura e temas relacionados com o seu estudo e teoria. Ao longo do ano de 2020, os títulos que tiveram mais procura e foram requisitados mais vezes foram “Estatística descritiva” , “Eu escrevo peças de teatro : guia técnico de escrita criativa”, “Mecânica dos materiais” e “Enfermagem: ciência humana e cuidar”.
As estatísticas de 2019 das bibliotecas públicas revelam que as Bibliotecas do Algarve emprestaram 166.066 documentos e a região do Algarve correspondeu à taxa média de leitura nacional.
Independentemente dos temas, géneros literários e autores escolhidos pelos leitores do Algarve, o importante a sublinhar é o ato de LER. E, citando mais uma vez o livro Ler o Mundo de autoria de Michèle Petit, repetimos as palavras que foi buscar ao escritor mexicano Juan Villoro: «A literatura existe pelas mesmas razões que existem o amor ou os sonhos, pela necessidade de completar, imaginariamente, um mundo que está incompleto, que é imperfeito.»
ABRIL 2021